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5.2.16

Umbanda, Candomblé e Brasil - Semelhanças e Diferenças - Cultura negra em cultos religiosos afrobrasileiros

Quando eu era pequena ia ao Centro de Umbanda que minha avó participava, onde todos se vestiam de branco, tinha um cheiro de incenso incrível porque um negro simpático defumava o ambiente antes das pessoas entrarem, um grande Jesus no centro, algumas tábuas onde se riscava em giz estrela e outras formas, eu tomava passe, batia a cabeça no chão próximo ao altar como em reverência... ao fundo do centro, onde os médiuns se trocavam tinha um outro altar, com várias miniaturas: preto-velho, são jorge, e outros que não me recordo. Algumas oferendas como flores e balas de mel. Além disso, nesse local eram realizados eventos beneficentes, dos quais me recordo o Dia das crianças, com brinquedos, bolo e festa. Então essa semana, passando por uma loja que vende artigos religiosos uma santa me chamou atenção e fui tirar uma dúvida. A Senhora fez referência ao Candomblé e me gerou a dúvida: a diferença entre Umbanda e Candomblé e suas peculiaridades.
Esse artigo trata sobre cultos africanos no Brasil e especialmente a diferença entre a Umbanda e o Candomblé. Busca-se informar sobre esses cultos praticados no Brasil como forma de manifestar a diversidade e preservar a cultura brasileira.
A Constituição Federal do Brasil determina no art.215, §1: “O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional.” Trata-se, aliás, de um direito fundamental descrito no art.5º VI da CF/88 “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;”

O país com maior população negra no mundo é a Nigéria. O segundo é o Brasil.

Sem partidarismos, o Presidente Lula certa vez afirmou por ocasião do Festival Mundial das Artes Negras em 2010: "A África não está apenas na pele dos brasileiros, mas na alma de todos nós. Por isso, o governo federal estimulará a participação dos nossos artistas no festival. É uma maneira de homenagearmos um continente que ajudou o povo brasileiro a ser como somos: alegres, batalhadores e com alma grandiosa".

Os cultos de origem africana são diversos: CANDOMBLÉ, VUDÚ, HOODOO, PETRO, RADA, LUCUMÍ, SANTERÍA, PALO-MAYOMBE, UMBANDA, QUIMBANDA E CATIMBÓ.

A preservação dos cultos, cada um com suas peculiaridades, garante a fidelidade e o respeito à cultura africana e afro-brasileira.

Para começar, cito: o Candomblé, o Vudú, a Santería, o Palo-Mayombe e o Lucumí são cultos muito semelhantes, de origem africana, mas tremendamente desenvolvidos nas Américas. Já a Umbanda é um culto muito distinto, com bem poucas semelhanças com os outros dois, enquanto a Quimbanda é algo totalmente diferente. O Catimbó é uma espécie de meio-caminho entre a Umbanda e a Quimbanda. O Hoodoo reúne características do Vudú, porém tem diversas peculiaridades, sendo a mais importante delas trabalhar apenas com Elementais, Elementares, Sombras, Cascarões, Larvas e "Almas". Petro e Rada são duas raízes diferentes do Vudú haitiano, sendo o culto Rada mais voltado às Entidades do panteão Afro original, enquanto o Petro é mais voltado ao culto de Loas semelhantes aos Guias de nossas Umbanda e Quimbanda. O Voudon Gnóstico, apesar do nome, e da nítida influência do Vudú e do Hoodoo, é mais uma Ordem Hermética (uma vez que é ligado à O.T.O.A. - Ordo Templi Orientis Antiqua) do que um culto ou uma religião, razão pela qual está fora deste texto. Todos, porém, tem entre si uma semelhança marcante e de suma importância: são todas "Religiões Thelêmicas", ou "Cultos Thelêmicos", como queiram. E o que significa uma religião ser "Thelêmica"? Significa que cada indivíduo, dentro dela, tem sua própria religião, seu próprio Deus, distintos dos de qualquer outro indivíduo. E foi por isso que os cultos africanos sobreviveram na mudança para o novo mundo, cresceram e se multiplicaram. Leia mais neste site

Considerando a Umbanda e o Candomblé as práticas de origem africana mais comuns no Brasil, forneço a seguir alguns dados sobre a quantidade de praticantes no Brasil.
No censo de 2000, em uma população que ultrapassa 160 milhões de habitantes, pouco mais de 525 mil pessoas se declararam adeptas do Candomblé e da Umbanda, embora outros tantos milhares de não-adeptos freqüentem terreiros e tendas como “clientes”.
Os dados também revelaram que existem mais Umbandistas que “candomblezistas”… 
[Umbanda: 397.431 ─ Candomblé: 127.582, em universo onde mulheres são a maioria] 
(Informação retirada deste site)
No censo de 2010 o IBGE classificou algumas religiões e uma das categorias tratou indistintamente “umbanda, candomblé e outras religiosidades africanas”.

“No que tange à umbanda verifica-se que parte importante dos que se declararam pertencentes a essa religião são residentes nos Estados do Rio Grande do Sul, do Rio de Janeiro e de São Paulo enquanto que entre aqueles que professavam a religião candomblé, grande parcela situava-se no Estado da Bahia, especialmente em Salvador e municípios próximos, e também no Estado do Rio de Janeiro (Cartograma 6).” (Relatório IBGE 2010)

Há divergência quanto ao número de adeptos. A Federação Nacional de Tradição e Cultura Afro-Brasileira (Fenatrab) desafia ostensivamente as cifras oficiais e garante haver 70 milhões de brasileiros, direta ou indiretamente, ligados aos terreiros — seja como praticantes assíduos, seja como clientes, que ocasionalmente pedem uma bênção ou um “serviço” ao mundo sobrenatural.
“Em 2001, Ricardo Mariano, analisando o crescimento evangélico, em sua tese de doutorado, fez uma descoberta sensacional. Descobriu que as religiões afro-brasileiras estavam perdendo fiéis… E apontou como razão o enfrentamento com as igrejas pentecostais [[os evangélicos, até porque os pastores se apropriaram de rituais do candomblé ou adaptaram esses rituais como odescarrego, o banho com a rosa branca, os passes e juntaram tudo isso com o apelo à figura de Jesus Cristo!]. …Pode-se ver que a perda de fiéis do conjunto afro-brasileiro se deve ao encolhimento da Umbanda. Como o pequeno crescimento do Candomblé não é suficiente para compensar as perdas umbandistas, o conjunto todo se mostra, agora, debilitado e declinante diante do avanço pentecostal.” [PRANDI, José Reginaldo. P. 17-18]
Passemos às diferenças entre Umbanda e Candomblé. 

Primeiramente a diferença etimológica.

Candomblé é uma palavra derivada da língua bantu: ca [ka]=uso, costume, ndomb=negro, preto e lé=lugar, casa, terreiro e/ou pequeno atabaque. A reunião dos três vocábulos resulta em "lugar de costume dos negros", por extensão, lugar de tradições negras, tradições entre as quais, destacam-se, no sentido atual as práticas religiosas que incluem a música percussiva [A TARDE, 1980]. Outra interpretação informa que kandombele significa "adorar" [Ngunz'tala, 2006]. Outra fonte afirma: O termo "candomblé" é uma junção do termo quimbundo candombe (dança com atabaques) com o termo iorubá ilé ou ilê (casa): significa, portanto, "casa da dança com atabaques". (CUNHA, A. G. Dicionário etimológico Nova Fronteira da língua portuguesa. 2ª edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1982. p. 146)

A palavra Umbanda é derivada de “u´mbana”, um termo que significa “curandeiro” na língua banta falada na Angola, o quimbundo. A umbanda tem origem nas senzalas em reuniões onde os escravos vindos da África louvavam os seus deuses através de danças e cânticos e incorporavam espíritos. Outras fontes dizem que a palavra é a união de 3 radicais, ou AUM-BAN-DAN, que significa “O Conjunto das Leis Divinas”.

A diferença da origem dos cultos:

A começar pelas origens, o Candomblé é uma religião africana que existe desde os tempos mais remotos daquele continente, que é o berço da terra, de forma que se funde sua origem com os primeiros contatos de pessoas que lá chegaram. No Brasil o Candomblé obteve contribuições de diversas nações africanas para a formação do panteão principal: os bantu, nativos de Angola, Moçambique, Congo; Gana, Benin, Nigéria [Ioruba ou Nagôs]; Sudaneses, da Costa do Marfim, os Ewe, muitos, muçulmanos; os Fon e os Ashanti. Todos esses, falando línguas diferentes e cultuando seus próprios deuses. 

A Umbanda, como religião, é brasileira. A Umbanda que se pratica em Angola se difere da Religião de Umbanda, embora guarde algumas semelhanças. Basta considerar o fato de que a religião é reconhecida como algo brasileiro, resultante do encontro de três raças e muitas culturas, para, facilmente, diferenciá-las - Africana, indígena e catolicismo. A Umbanda que se pratica em Angola não constitui culto aberto e coletivo, antes se reserva a práticas mais particulares e restritas. Logo, uma mesma palavra passa a ter um novo significado. 

As distinções entre o Candomblé e a Umbanda decorrem de três fatores: a natureza das entidades cultuadas; os procedimentos do culto e pelos componentes do sincretismo.

A Diferença das entidades cultuadas: 

No Candomblé, os cultuados, os Orixás [ou Orijás] são considerados deuses - Esse panteão, atualmente, é composto de 16 orixás [ou Òrìsà, em ioruba] principais, numa significativa condensação das forças metafísicas que levou mais de um século para se definir no processo de integração das diferentes nações cujos representantes chegaram ao Brasil durante o período da escravidão. Não obstante, "correndo por fora", contam-se ainda, outros 14 orixás reconhecidos em diferentes centros de culto. 

Com sua teologia repleta de controvérsias o candomblé, em muitos centros de culto, como mencionado acima, admite apenas 12 orixás excetuando Oxalá, o outro nome para Olorum, o Deus Supremo. Esses 12 são:
01.Exú [Esú]; 
02.Ògùn [Ogum]
03.Osòòsi [Oxossi]
04.Ôsumarê [Oxumaré]
05.Obalúwaiyé [Obaluaye ou Omolu]
06.Ósanyin [Ossaim]
07.Sàngó [Xangô]
08.Ôsum [Oxum]
09.Oya [Iansã]
10. Lògún Odé [Logunedé]
11. Nanã
12.Yemoja [Yemanjá]
Na Umbanda, ainda que o culto também invoque e evoque Orixás, estes são considerados meros espíritos ancestrais mais antigos ao lado de numerosas outras entidades representativas de ancestrais mais modernos e/ou contemporâneos. No Candomblé, os deuses, desde de sua origem em terras africanas, também são ancestrais porém sua antiguidade remonta a tempos imemoriais. 
Na Umbanda as consultas são feitas através da invocação dos espíritos de caboclo, preto-velho (guia espiritual retratado na imagem abaixo), baiano, exú, etc. Mas nota-se muito o uso do sincretismo com o uso de santos católicos e da figura de Jesus, confome é possível ver abaixo.

A Diferença dos Rituais: 
No Candomblé as consultas são feitas através do "jogo de búzios" ou "Ifà", não aceitando a comunicação de espíritos (eguns), sendo portanto vetada sua incorporação, os trabalhos mediúnicos de incorporação. No Candomblé a consulta é feita através da leitura esotérico/divinatória do jogo de búzios (no Brasil), forma de leitura exclusiva do povo candomblecista e o tratamento para cada caso, é feito com elementos da natureza, oriundos dos reinos vegetal, animal e mineral, através e ebós, oferendas, Orôs (rezas) e rituais africanos. 
“No Candomblé há muitos rituais de segredo que a gente não pode expor. A gente cultua orixás. 
A Umbanda não tem orixás, na umbanda tem essas imagens, que é nosso pai Oxalá, tem Caboclo, Preto Velho, Iemanjá, as imagens que, dentro da igreja católica são São Gerônimo, Santa Bárbara, Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora do Carmo, São Jorge, que é ogum. Isso cultuamos na Umbanda”, explica Walmir de Omulu, pai de santo. 

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A Diferença do idioma dos cânticos:
No Candomblé os cânticos são em línguas africanas (Iorubá como no canto acima - ou Banto), dependendo da nação de origem daquele grupo. Os cânticos da Umbanda, chamados pontos, são em português. Ouça no vídeo.


A Diferença do Local de realização:
No Candomblé - Terreiro (do latim terrarium[1] ) nos cultos afro-brasileiros, é o local onde se realizam os cultos cerimoniais e são feitas oferendas aos orixás.[2] Embora nem sempre de terra batida, o nome permanece como referência aos barracões e quintais onde as celebrações eram realizadas, também chamado de roça. E Barracão onde são realizadas as festas públicas.
Na Umbanda - Congá é o local onde ocorrem as incorporações das entidades. Para entrar no conga deve-se tirar os sapatos em respeito ao solo, que é sagrado. A cerimônia, chamada de gira, começa à noite, por volta das 20 h, e, quando os fiéis chegam, os médiuns já estão lá, incluindo o sacerdote começa com a defumação: ervas como alecrim são queimadas num braseiro. O ritual, que purifica e passa energia, é acompanhado de ponto cantado - todas as cantigas são chamadas de pontos na umbanda.

Outras características:
Na Umbanda só se "trabalha" para o bem (em contraposição à Quimbanda). As Entidades que "baixam" na Umbanda são somente benéficas. Em alguns "terreiros" de Umbanda foram implantados "Rituais Iniciáticos", herdados de culturas diversas. Na Umbanda, vê-se uma nítida influência do Kardecismo, bem como da mentalidade católico-cristã, além do público e notório sincretismo religioso entre os Orixás da Umbanda (que só comungam dos nomes com os Orixás do Candomblé) e os Santos Católicos.

Existem 7 linhas de Umbanda:

I. LINHA DE OXALÁ [Liderada por Jesus Cristo] ─ Falanges: 1. Santo Antônio | 2. São Cosme e Damião ["espíritos-crianças", não necessariamente infantes mas, antes, Espíritos com mentalidade infantil] | 3. Santa Rita | 4. Santa Catarina | 5. Santo Expedito | 6. São Francisco de Assis. Esta Linha dedica-se a desmanchar trabalhos de magia.

II. LINHA DE IEMANJÁ [Liderada por Oxun] ─ Falanges: 1. Ondinas de Nanã | 2. caboclas do Mar | 3. Indaiá dos Rios | 4. Iara dos Marinheiros | 5. Tarimã das Caluga-Caluguinhas da Estrela Guia.

III. LINHA DO ORIENTE ─ Falanges: Hindus, árabes, chineses e outros orientais além de europeus. Dedicados à medicina.

IV. LINHA DE OXOSSI ─ Falanges: 1. Urubatão | 2. Araribóia | 3. Caboclo das Sete Encruzilhadas [aquele do fundador Zélio Fernandino] | 4. Águia Branca. Indígenas, caboclos, são curandeiros que protegem contra magia e ministram passes, prescrevem ervas medicinais em preparados para banhos, defumações ou uso tópico. Estes preparados são chamados amacys.

V. LINHA DE XANGÔ ─ Falanges: 1. Iansã | 2. caboclo do Sol | 3. Caboclo da Lua | 4. Caboclo Pedra Branca | 5. Caboclo do Vento | Caboclo Treme Terra. Pela característica do orixá que dá nome à linha, supõe-se que atue em casos de problemas judiciais, demandas, litígios.

VI. LINHA DE OGUM ─ Falanges: 1. Ogum Beira-Mar | 2. Ogum-Iara | 3. Ogum-Megê | 4. Ogum Rompe-Mato. Estas falanges tratam das brigas, das situações de disputa pessoal, discórdias.

VII. LINHA AFRICANA ─ Falanges: 1. Povo da Costa | 2. Pai Francisco | 3. Povo do Congo | 4. Povo de Angola | 5. Povo de Luanda | 6. Povo de Cabinda | 7. Povo da Guiné. Esta falange dedica-se à prática do bem em geral e, ao que tudo indica, dentro da confusa divisão das Linhas e Falanges, esta linha africana possivelmente inclui a chamada Falange ou seria [sub-falange?] dos Pretos-Velhos e a das Almas [que o estudo comparado indica ser sinônima da Falange Povo de Angola].

Para cada Orixá Superior e cada Orixá menor existem inúmeras correlações que são utilizadas nas práticas rituais das Giras [sessões]: minerais, figuras geométricas, signos zodiacais, dias da semana, horas vibratórias, perfumes, flores, ervas que são usadas em banhos, remédios e defumações, cores e arcanjos tutores. Se este artigo contivesse o nome de todos os caboclos, seria uma lista telefônica de metrópole; e se fossem indicadas todas as relações de atributos, seria um livro... um "tijolo". Para quem realmente desejar conhecer em detalhes essa Hierarquia, suas relações e atributos, o melhor é procurar o livro Ponto de Convergência: Fundamentos e Práticas de Umbanda, de Eduardo Parra.

Veja, por exemplo, as cores das guias (colares) correspondentes a cada Orixá:
Ao longo do tempo, a umbanda passou por transformações e foi se demarcando de outras religiões. Também criou ramificações, algumas delas são descritas como: Umbanda Tradicional: criada no Rio de Janeiro pelo jovem Zélio Fernandino de Moraes; Umbandomblé ou Umbanda Traçada: onde um mesmo sacerdote pode realizar sessões distintas de umbanda ou de candomblé; Umbanda Branca: utiliza elementos espíritas, kardecistas e os adeptos usam roupas brancas; Umbanda de Caboclo: forte influência da cultura indígena brasileira.

Enfim, essas são algumas das várias diferenças dessas duas religiões. Cada um com sua fé, somando um país melhor, com amor e paz.

Viva à diversidade!
Viva à tradição!

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